Que se passa com a Mitsubishi?

Que se passa com a Mitsubishi?

Recentemente temos visto a Mitsubishi apresentar novos modelos que são em tudo semelhantes aos seus companheiros de segmento da Renault, com a excepção natural dos emblemas frontais e designações traseiras. O que significa isto para o fabricante nipónico?

Vamos inevitavelmente precisar de recuar um pouco no tempo para contextualizar aquilo que vou dizer aqui. A gigante francesa Renault e a japonesa Nissan têm sido parceiros desde 1999. Nessa altura a Renault estava com bastantes lucros, ao contrário da Nissan, que estava à porta da falência.

O objectivo foi naturalmente conciliar conhecimentos adquiridos por ambas as partes, numa tentativa de poupar alguns recursos no fabrico de novos automóveis e eventualmente chegar a novos mercados onde estes fabricantes pudessem prosperar.

Algures em 2017, tendo a Nissan adquirido grande parte da Mitsubishi aquando das suas dificuldades financeiras, esta última junta-se à aliança Renault-Nissan, tornando-se assim Renault-Nissan-Mitsubishi.

Portanto, o que vimos até agora, foi que a Renault salvou a Nissan — e bem — que, por sua vez, salvou a Mitsubishi — e muito bem.

Ao longo dos anos, esta parceria tem tido pouco ou nenhum impacto visual nos carros que cada um dos fabricantes produz. Cada um dos fabricantes continua a lançar carros visualmente únicos para o mercado. Por exemplo o Renault Captur não é confundível com um Nissan Juke, ainda que possam partilhar alguns componentes mecânicos entre eles, tendo em conta a parceria.

Mas mais surpreendente do que isso — pelo menos para mim — foi a Mitsubishi lançar recentemente o seu novo ASX.

O novo Mitsubishi ASX é um Renault Captur mascarado de japonês.

Não estou com isto a fazer nenhum tipo de juízo de valor em relação a nenhum dos fabricantes. E parcerias acontecem com alguma frequência no mundo automóvel. Veja-se por exemplo o novo Mazda 2 e o Toyota Yaris, que são visualmente idênticos. Ou o Toyota Supra e o BMW Z4, que ainda que sejam distintos visualmente, partilham muito da sua mecânica.

Mas algo completamente diferente parece-me ser aquilo que a Mitsubishi e a Renault estão a fazer. Como se não bastasse o Mitsubishi ASX ser uma cópia chapada do Renault Captur, a Mitsubishi acaba de apresentar o Colt, que, espantem-se, será uma cópia do Renault Clio.

O que dizem as vendas?

Entre 2008 e 2019, a Mitsubishi vendeu em Portugal entre 868 unidades (em 2012) e 3.416 (em 2010). E ainda que a comparação que vou fazer a seguir seja muito pouco justa, uma vez que a Toyota é o fabricante que mais vende em todo o mundo, serve como comparação.

Ora, a Toyota no mesmo período vendeu entre 3.791 (em 2012) e 11.499 (em 2010). Ou seja, o melhor ano da Mitsubishi não chegou sequer aos valores do pior ano da Toyota.

Mas comparemos com a Nissan, já que tanto falamos dela neste artigo. No mesmo período, a Nissan vendeu entre 3.919 unidades em 2012 e 15.073 em 2018. Valores ainda mais impressionantes do que a Toyota.

Não é como se a Mitsubishi estivesse a cair, até porque tem estado a vender gradualmente mais unidades desde 2012. Mas não parece ser o suficiente, e pessoalmente, tenho dúvidas que esta abordagem seja a ideal.

Será o fim da Mitsubishi?

Este fabricante nipónico, já teve melhores cotações nos rankings de fiabilidade do que tem actualmente. Mas não será por mero acaso que os fabricantes japoneses — Honda, Toyota, Lexus, Mazda, Subaru e Nissan — ficam recorrentemente em boas posições nestes estudos, ano após ano. Infelizmente para a Mitsubishi, o seu período áureo parece ter chegado ao fim.

Mas independentemente disso, que efeitos terão estas cópias de Renault com emblema Mitsubishi nos consumidores?

Afinal, quem procura um Mitsubishi procura algo que um Renault geralmente não oferece. E vice versa. A Renault ultimamente tem lançado modelos muito bonitos. Algo que, na minha opinião não se pode dizer da Mitsubishi, em época alguma — vamos ignorar momentaneamente que existiu um Mitsubishi Lancer Evo.

Estamos a falar de carros (Captur e ASX) que são literalmente uma cópia um do outro. Ao ponto de existir um sinal sonoro quando se abre a porta do condutor no Renault que se mantém inalterado no novo ASX.

Pessoalmente, nunca vejo com bons olhos quando os fabricantes decidem partilhar designs entre eles. Componentes mecânicos ou plataformas, pode ser benéfico para ambos. Mas no que toca aos designs vai haver sempre um que é a cópia do outro. E infelizmente para a Mitsubishi, neste caso eles fazem as cópias — uma vez que a Renault já apresentou os seus modelos bem antes da Mitsubishi o fazer.